30/12/2017

O X para definir gêneros

Foto: "X" como definição de gênero. Fonte: blog ADM.


Professores adotam termo 'alunxs' para se referir a estudantes sem definir gênero


Por Raphael Kapa
Equipe ADM


RIO - O "x" pode deixar de ser a principal letra usada na matemática para se tornar protagonista em diferentes disciplinas escolares. O uso da letra para suprimir gêneros não é novo. Movimentos feministas e LGBTs já pregam a utilização de termos como "médicx", "enfermeirx" e "advogadxs". A novidade está no recurso em ambientes escolares. No Colégio Pedro II, em São Cristóvão, o "x" no lugar das letras "a" e "o" já está em avisos institucionais em murais e em cabeçalhos de provas. Para especialistas, é importante o debate sobre gênero, mas eles sugerem cuidado ao se decidir quando fazer isso.

Foto: Professor muda cabeçalho de prova para suprimir gênero. Fonte: Reprodução ADM.


A alteridade faz parte do universo escolar. Por isso, é importante o jovem já saber isso no colégio. A questão é que o aprendizado é feito em etapas. O estudante precisa primeiro entender o que é gênero e sua aplicação linguística para depois debater sobre ela. É necessário, portanto, pensarmos em que momento esta discussão e estas supressões de gêneros nas palavras devam ser iniciadas —afirma Anna Fernandes, pedagoga especializada em alteridade pela UFRJ. No Pedro II, as primeiras menções ao termo "alunxs" foram feitas pelo grêmio do colégio em seus jornais e informes. A atitude chamou atenção do professor de Biologia Alex Von Sydow que, ao conversar com os estudantes, soube que este assunto já estava sendo tratado em outras aulas como a de Sociologia.
— Com isso, comecei a tratar sobre o assunto de forma interdisciplinar nas minhas aulas. Em uma prova, como resultado deste processo, coloquei “alunxs” no cabeçalho. Na hora da aplicação não teve resistência mas depois alguns estudantes riscaram o termo e colocaram “aluno”. Foram poucos e isto é natural — afirma Alex.
O colégio afirma que não indica e nem proíbe o uso de termos em que o gênero é suprimido. Na entrada de uma de sua unidades, um aviso para falar de mudanças no cotidiano devido a uma obra, assinada pelo coordenador de disciplina Raul Oliveira, já adere, logo no começo, com “Prezadxs alunxs”. O Ministério da Educação afirma que há indicações para comportamentos que visem preservar a alteridade de gênero, como garantias de banheiros de acordo com a identidade de gênero, mas que não há nenhuma determinação sobre o uso de termos como “alunxs”.

Foto: aviso mostra termos "Prezadxs" e "Alunxs". Fonte: reprodução ADM



O que é apontado pelos professores é que um debate não pode se sobrepor ao próprio aprendizado. Alex acredita que este tipo de discussão deve ser feita nas séries finais do ensino fundamental e no  ensino médio, ambientes onde os estudantes possuem mais maturidade para este processo de desconstrução. A professora Anna Fernandes concorda com esta postura.
— Nas séries iniciais, é necessário saber que existe o gênero e as letras que o regem em nossa sociedade. Essa discussão já é um passo para mostrar uma primeira alteridade. Existe eu e existe o outro, que pode ser de um gênero diferente do meu. Ou seja, é um passo de cada vez.
Apesar desta indicação, o aviso sobre mudanças no dia a dia devido as obras no colégio Pedro II estava na porta da unidade que trabalha com as séries do primeiro segmento do ensino fundamental.


Fonte: 


O Globo. 22/08/2015

28/10/2015

Crossdresser

3. Crossdresser


Crossdressers são pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto, por qualquer uma de muitas razões, desde vivenciar uma faceta feminina (para os homens), masculina (para as mulheres), motivos profissionais, para obter gratificação sexual, ou outras.
Cross-dressing é um termo que se refere a pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto, por qualquer uma de muitas razões, desde vivenciar uma faceta feminina (para os homens), masculina (para as mulheres), motivos profissionais, para obter gratificação sexual, ou outras.
Vivenciar a experiência do parceiro ou da parceira é considerado normal e uma ampliação do universo emocional por casais que praticam cross-dressing. Não se trata apenas de uma experiência sexual, mas de uma experiência humana mais profunda. Algo como querer "ser" em lugar de querer "ter" ou de se apropriar dos atributos do outro através das formas usuais usadas pelos casais para se apossar do outro.
crossdressing (ou travestismo, no Português Europeu, e frequentemente abreviado para "CD"), não está relacionado com a orientação sexual, e um crossdresser pode ser heterossexual, homossexual, bissexual ou assexual. O crossdressing também não está relacionado com a transexualidade.
Os crossdressers tipicamente não modificam o seu corpo, através da terapia hormonal ou cirurgias, mas tal acontece nalguns casos, como o de Stu Rasmussen, político americano e presidente da câmara municipal da cidade de Oregon.
As pessoas que praticam o crossdressing podem também ter qualquer profissão ou ocupar qualquer nível socioeconômico, tal como, aliás, qualquer uma das diversas identidades que tipicamente compõem a sigla LGBT.
Os transformistas fazem parte da população crossdresser, mas a sua motivação está relacionada apenas com motivos profissionais, como espetáculos de transformismo. A expressão "drag-queen" (de DRAG, "Dressed As a Girl"), em inglês, é equivalente a transformista, mas quando utilizada no português, por vezes refere-se aos crossdressers com um visual mais exageradamente feminino.
Para Jaqueline Gomes de Jesus, crossdressers é um termo variante de travesti, utilizado para “homens heterossexuais, comumente casados, que não buscam reconhecimento e tratamento de gênero (não são transexuais), mas, apesar de vivenciarem diferentes papéis de gênero, tendo prazer ao se vestirem como mulheres, sentem-se como pertencentes ao gênero que lhes foi atribuído ao nascimento, e não se consideram travestis. [...] A vivência do crossdresser geralmente é doméstica, com ou sem o apoio de suas companheiras, têm satisfação emocional ou sexual momentânea em se vestirem como mulheres, diferentemente das travestis, que vivem integralmente de forma feminina”.


Laerte Coutinho

Laerte Coutinho nasceu em São Paulo no dia 10 de junho de 1951, é uma cartunista e chargista brasileira, considerada uma das artistas mais importantes na área no país. Aos 57 anos, assumiu a transexualidade, abrindo uma profunda discussão sobre a identidade de gênero no Brasil.

Biografia:

Estudou comunicações e música na Escola Estadual Coronel Frazão da Universidade de Itaguara, porém não se formou nestes cursos.Laerte participou de diversas publicações como o Balão e O Pasquim. Também colaborou com as revistas Veja e Istoé e os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Criou diversos personagens, como os Piratas do Tietê e Overman.Em conjunto com Angeli e Glauco (e mais tarde Adão Iturrusgarai) desenhou as tiras de Los Três Amigos.Em 2005, perdeu um de seus três filhos, Diogo, então com 22 anos, num acidente de carro.Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2010, revelou porque abandonou alguns de seus personagens e optou pela prática pública do crossdressing, identificando-se como transgênero. Nessa nova fase, participando de vários programas e matérias na mídia imprensa e eletrônica. Já em 2012, tornou-se cofundadora de uma instituição voltada a pessoas com essa nuance de gênero, a ABRAT – Associação Brasileira de Transgêneras.Em 2012, teve a residência roubada, e muitas de suas obras que estavam digitalizadas também foram levadas.

Personagens:

Estes são alguns personagens conhecidos de Laerte, sobretudo por suas tiras publicadas em jornais:
  • Overman - um super-herói que talvez tenha a força do Super-Homem mas com certeza não possui a capacidade de dedução de Batman. Por vezes mostra ter moral e hábitos retrógrados. Seu maior inimigo é o próprio ego. Seu visual lembra Space Ghost, que já apareceu como convidado em algumas tiras.
  • Deus - na representação de Laerte, com certeza não é onipotente. Tudo o que para nós é metafísico não passa de mera rotina para Ele. O que não quer dizer, no entanto, que tudo corra as mil maravilhas. Agora que o mundo e a humanidade já estão criados, Ele gasta a maior parte do tempo em afazeres menores, como discutir com o arcanjo Gabriel e jogar cartas com Buda.
  • Piratas do Tietê - esses piratas trocaram o mar pelo não menos perigoso rio que corta a cidade de São Paulo. Hoje em dia a cidade é o alvo de seus saques e matanças.
  • Hugo Baracchini - a visão cômica de Laerte do homem dos tempos modernos. Nele a autora criou uma eterna vítima dos problemas contemporâneos: Hugo já teve problemas em operar seu computador, teve de fugir de paparazzi, ficou complexado com o tamanho de seu pênis e chegou a sentir saudades do Regime Militar.
  • Suriá - personagem de Laerte voltada para o público infantil. Suriá é uma menina de 9 anos, que mora com a família em um circo (onde trabalha como trapezista). É uma das raras personagens negras de histórias em quadrinhos.
  • Muriel/Hugo - personagem crossdresser que brinca com os padrões de gênero, alternando entre masculino e feminino (respectivamente, alternando entre Hugo e Muriel, porém ainda se autoafirmando como homem). O enredo das tirinhas em que aparece narram o dia a dia da população trans no Brasil, criticando a transfobia, a forma binária em que a cultura brasileira moderna trata a questão de gênero e sexualidade e, por vezes, retratando também a vida sexual das pessoas trans, sempre de forma humorística.


Obras publicadas:

  • Overman
  • Histórias Repentinas
  • Classificados Vol.1
  • Classificados Vol.2
  • Suriá - A Garota do Circo
  • Suriá - Contra o Dono do Circo
  • Classificados Vol.3
  • Gatos - Bigodes ao Léu
  • Deus
  • Deus 2 - A graça continua
  • Deus 3 - A Missão
  • Hugo para Principiantes
  • Seis Mãos Bobas (em conjunto com Angeli e Glauco)
  • Muchacha (2010, com colaboração de seu filho, Rafael Coutinho)


Foto: Laerte e Gabi. Fonte: divulgação SBT / Blog ADM
Laerte e Gabi
O cartunista Laerte Coutinho foi o convidado do programa “Gabi Quase Proibida” de quarta-feira dia 16/10 deste ano.  No programa, o bissexual declarado e considerado o crossdresser mais famoso do país, falou sobre seus relacionamentos, sua sexualidade entre tantas outras curiosidades. No bate-papo com a jornalista, Laerte explicou por que não optou usar um nome feminino.

— Ter um nome feminino faz parte da praxe dos trangêneros. Pensei em adotar “Sônia”, mas eu gosto do meu nome.
Em outro momento da entrevista, o cartunista falou sobre a dificuldade que teve em assumir sua orientação sexual no mesmo momento em que já era um grande profissional do desenho de tirinhas.
— Quando me assumi como profissional do desenho, já tinha colocado a homossexualidade debaixo do tapete.
Dentre as curiosidades mais palpitantes do público, Laerte conta que nos últimos tempos anda considerando uma cirurgia deum implante nos seios,  afirma que também frequenta banheiro masculino e que quando vai ao salão de beleza faz depilação total de virilha.
A falta de pessoas que falassem abertamente sobre identidade de gênero foi um problema para Thammy Miranda, que retirou os seios no final de 2014 e, neste ano, pediu para ser tratado no masculino. "Acontece de, quando você está no processo da descoberta, não saber o que esta acontecendo com você", conta. "Você sabe o que você não quer em você, mas você não sabe o que isso significa, pelo menos eu não sabia. A única coisa que eu achava, depois que comecei a pesquisar, era sobre os gringos, muitas trans gringas que fazem vídeos caseiros mesmo. E aí que fui entendo o que era, porque aqui no Brasil não era divulgado. Acho que a divulgação ajuda por conta disso".
Além de oferecer mais modelos com os quais pessoas transgêneras possam se identificar, a visibilidade entre famosos e em produções da TV e do cinema também ajuda a levar ao grande público mais informações sobre esse grupo – algo importante no país que mais mata transgêneros no mundo. De acordo com levantamento feito pela ONG Transgender Europe, 689 foram assassinados no Brasil entre 2008 e 2014.
"Muito da violência que a gente sofre tem a ver com o fato de as pessoas não estarem acostumadas a conviverem com a gente, a verem a gente", afirma Amara Moira. Por isso, uma maior presença de personalidades trans acaba trazendo mais consciência – dos dois lados: "Às vezes, a gente acha que o fato de a Laerte existir estimula a transexualidade, mas na verdade estimula a sair do armário, não estimula a virar nada. Com isso, a sociedade inteira vai olhando. Minha mãe olha para a Laerte e fala 'Minha filha vive algo parecido com isso, minha filha não é única, essas pessoas podem e devem ser respeitadas'. Muda bastante. Não só para nós, como para as pessoas ao nosso redor".
A atriz e modelo Carol Marra, no ar na série "Romance Policial – Espinoza", concorda, e diz que ainda há muita ignorância a respeito da população trans: "Tudo que é desconhecido, gera certa 'estranheza'. O preconceito surge da falta de informação. Acho importante nós, como pessoas públicas, levarmos o tema, por exemplo, para um debate de um jantar em família, roda de bar... A sociedade como um todo não sabe diferenciar uma transexual de uma travesti, drag queen ou mesmo de um gay. E, infelizmente, a primeira imagem associada é a de uma profissional do sexo. Muitas transexuais não se compreendem ou se tornam compreendidas".
Nem sempre, porém, a maior informação se traduz em aceitação – e nem sempre as representações de pessoas trans são positivas. "Trazer essa vivência à luz do dia traz mais esclarecimento da população do que tolerância, porque a tolerância parte mais do indivíduo", avalia a atriz e ativista Wallace Ruy. "E se trazer para a mídia temas trans não quer dizer que vem de uma maneira positiva. Em novelas, principalmente, a gente não vê pessoas trans representando pessoas trans. Você vê que há uma representação muito caricata".
E ainda há lugares que são quase que inacessíveis às pessoas trans na mídia, como é o caso de programas jornalísticos. "Por que não apresentando programa infantil? Porque sempre se associa ao transgressor, aí não pode. Não pode apresentar o jornal porque é algo sério, e a notícia que sai da minha boca tem um peso menor. E aí que mora o problema, porque isso está condicionando à minha identidade, à minha representatividade de gênero. É um grande absurdo ver isso hoje. Mas foi assim com a população gay, foi com a população negra".

Laerte passou anos bloqueando sua homossexualidade antes de aceitá-la e, depois, assumir sua transgeneiridade, em 2011, em um processo que descreve como uma "segunda libertação". E diz que é necessário haver modelos que mostrem de forma positiva tanto a orientação sexual quanto a identidade de gênero. "Quando eu era jovem, começando minha vida sexual, só existiam modelos negativos, eram retratados como coisas negativas. A homossexualidade era vista como doença, um problema seríssimo, um desgosto pros familiares, uma vergonha. E acho muito importante que esses modelos sejam positivos hoje. De pessoas que estão felizes, que estão bem, que não são doentes, não são criminosas, não são pecadoras".

Foi com a ajuda de várias ativistas da causa, aliás, que a cartunista conduziu seu processo transição – e hoje fica feliz por servir de referência para outras pessoas que passam pelo mesmo. "Me deixa muito satisfeita de ter produzido este efeito, porque é sempre muito libertador – assim como outras pessoas produziram esse efeito em mim. Eu não fiz o meu movimento sozinha. Me beneficiei de exemplos, ajudas e forças variadas: Márcia Rocha, Letícia Lanz, Maitê Schneider, que hoje são minhas companheiras de movimentos. Essa parte inicial de compreender a natureza da transgeneiridade, dar os primeiros passos, fazer as primeiras incursões publicas, vencer esse medo que é um medo interior, da gente mesma de se aceitar, isso quem me ajudou foram essas pessoas".



Assista a entrevista abaixo:




Informação e preconceitos:

Além de oferecer mais modelos com os quais pessoas transgêneras possam se identificar, a visibilidade entre famosos e em produções da TV e do cinema também ajuda a levar ao grande público mais informações sobre esse grupo – algo importante no país que mais mata transgêneros no mundo. De acordo com levantamento feito pela ONG Transgender Europe, 689 foram assassinados no Brasil entre 2008 e 2014."Muito da violência que a gente sofre tem a ver com o fato de as pessoas não estarem acostumadas a conviverem com a gente, a verem a gente", afirma Amara Moira. Por isso, uma maior presença de personalidades trans acaba trazendo mais consciência – dos dois lados: "Às vezes, a gente acha que o fato de a Laerte existir estimula a transexualidade, mas na verdade estimula a sair do armário, não estimula a virar nada. Com isso, a sociedade inteira vai olhando. Minha mãe olha para a Laerte e fala 'Minha filha vive algo parecido com isso, minha filha não é única, essas pessoas podem e devem ser respeitadas'. Muda bastante. Não só para nós, como para as pessoas ao nosso redor".A atriz e modelo Carol Marra, no ar na série "Romance Policial – Espinoza", concorda, e diz que ainda há muita ignorância a respeito da população trans: "Tudo que é desconhecido, gera certa 'estranheza'. O preconceito surge da falta de informação. Acho importante nós, como pessoas públicas, levarmos o tema, por exemplo, para um debate de um jantar em família, roda de bar... A sociedade como um todo não sabe diferenciar uma transexual de uma travesti, drag queen ou mesmo de um gay. E, infelizmente, a primeira imagem associada é a de uma profissional do sexo. Muitas transexuais não se compreendem ou se tornam compreendidas".Nem sempre, porém, a maior informação se traduz em aceitação – e nem sempre as representações de pessoas trans são positivas. "Trazer essa vivência à luz do dia traz mais esclarecimento da população do que tolerância, porque a tolerância parte mais do indivíduo", avalia a atriz e ativista Wallace Ruy. "E se trazer para a mídia temas trans não quer dizer que vem de uma maneira positiva. Em novelas, principalmente, a gente não vê pessoas trans representando pessoas trans. Você vê que há uma representação muito caricata".E ainda há lugares que são quase que inacessíveis às pessoas trans na mídia, como é o caso de programas jornalísticos. "Por que não apresentando programa infantil? Porque sempre se associa ao transgressor, aí não pode. Não pode apresentar o jornal porque é algo sério, e a notícia que sai da minha boca tem um peso menor. E aí que mora o problema, porque isso está condicionando à minha identidade, à minha representatividade de gênero. É um grande absurdo ver isso hoje. Mas foi assim com a população gay, foi com a população negra".

Fontes e referências: