NA HISTÓRIA

A história da sexualidade

Por redação ADM



O livro História da sexualidade é um estudo em três tomos sobre a sexualidade no mundo ocidental escrito pelo filósofo e historiador francês Michel Foucault. O primeiro tomo: A vontade de saber, foi publicado pela primeira vez em 1976 pela editorial Gallimard. Foi seguido de O uso dos prazeres e O cuidado de si ambos publicados em 1984. O quarto tomo que seria "Os prazeres da carne" não chegou a ser concluído e como Michel Foucault deixou manifesta em testamento a vontade de que nenhum de seus textos inacabados fossem publicados, o conteúdo do quarto tomo nunca foi divulgado. 

O tomo I analisa as idéias de Foucault quanto à "hipótese repressiva", a ideia que a sociedade ocidental teria suprimido a sexualidade desde o século XVII até meados do século XX. Ele argumenta que esta hipótese é uma ilusão e que na realidade os discursos sobre a sexualidade proliferaram durante este período. Continua argumentando que neste momento os especialistas começam estudar a sexualidade de forma científica, classificando os diversos tipos de sexualidade e incentivando as pessoas a confessarem seus sentimentos e condutas sexuais, todo com o desejo de conhecer a "verdade" sobre o sexo. Foucault estava interessado na criação do sujeito e na forma como o indivíduo é constituído. Em História da sexualidade ele argumenta que no mundo ocidental, durante os séculos XVIII e XIX, a identidade das pessoas começa a estar cada vez mais ligada à sua sexualidade.


Foto: Livros, capas vol. 1, 2 e 3 de Michel Foucault


História


Desde o aparecimento do ser humano no mundo, a sexualidade já era um fenômeno existente, mas a história do estudo da sexualidade só vem sendo pensada nos últimos séculos. Durante todo este percurso encontramos diferentes formas de expressão dessa sexualidade, carregadas de valores, estigmas e preconceitos de cada época e sociedade. Longe de ser somente um ato físico, acabou adquirindo significado simbólico bastante complexo e hoje funciona como uma estrutura social e cultural situada dentro de um sistema de poder.


Foto: Justine ou les Malheurs de la vertu 
(Justine e os infortúnios da virtude). 
Autor: desconhecido


As curiosidades sobre a sexualidade e os sentimentos que ela desperta sempre esteve presente ao longo da história da humanidade. Podemos verificar diversas obras de arte da Antiguidade, ou até mesmo desenhos pré-históricos que retratam o corpo humano; e muitos com ênfase nos órgãos genitais. O pênis, por exemplo, conhecido como "falo" ao estar ereto, já foi idolatrado como o símbolo de fertilidade, de sorte, de proteção, de poder e de liderança pelas mais diversas culturas do globo terrestre e ainda tem vital importância simbólica na atualidade. Referências sobre esse estudo podem ser encontradas desde a Idade Antiga, nos escritos do filósofo Platão, onde ele identificava o deus Eros como o deus do amor e dos apetites sexuais, deus do instinto básico da vida e responsável pela atração entre os corpos. Em contrapartida, ao analisarmos os discursos a partir do século XVII, percebemos que o ato sexual passou a ser colocado pela burguesia e principalmente pela Igreja em outro patamar, retirando-lhe a centralidade. Foucault analisa que, apesar de marcada por relações de poder, a sexualidade não pode ser vista como uma mera extensão de conflitos marcados pela luta de classes. Se para a aristocracia a “pureza” estava no sangue, para a burguesia ela se encontraria apenas na busca de uma sexualidade garantidora da diferenciação frente aos demais componentes da sociedade. Somente quando se colocam problemas econômicos, como, por exemplo, o controle das populações, que a sexualidade do trabalhador passará a constituir problema. Assim é que a burguesia desempenha papel significativo na evolução de uma nova visão de sexualidade, mas não necessariamente sob a forma de “censura”. Quanto à Igreja, sobretudo a Católica, que dominava de uma certa forma a mentalidade da sociedade da época, a sexualidade ficou restringida à ideia de procriação donde qualquer tipo de controle de natalidade, ao contrário do propagado pelos especialistas da demografia, é visto como pecado.

Entretanto, com a difusão dos estudos e princípios da Revolução Científica, a medicina se tornou um ator fundamental neste processo, ao instaurar uma série de procedimentos pelos quais as práticas sexuais passaram a ser analisadas, a partir de uma visão “científica”. Tal discurso se torna poderoso à medida que não fala em nome de especulações e de falsas crenças determinadas pela Igreja, dando um lugar central à objetividade junto as observações criteriosas baseadas nos métodos científicos que garantem uma “verdade” irretocável e, por isso mesmo, que se coloca na condição de guia para o estudo e prática sexual.

O estudo da sexualidade hoje


Nos tempos atuais, destacou-se no estudo da sexualidade o surgimento da psicanálise, com os estudos de Sigmund Freud, que se referiu a esse mesmo deus Eros de Platão como a libido, força vital de amor.

O tema da sexualidade foi primeiro abordado por Michel Foucault que problematiza essa questão confrontando-a com a moral contemporânea. De acordo com o contexto social do mundo moderno, o papel do homem e da mulher na sociedade seria paralelo aos papéis dos dois gêneros no mundo greco-romano. Neste caso, os gêneros não são caracterizados em um aspecto biológico, mas sim pelo caráter social. Para os estudiosos de cultura contemporânea, o sexo não seria uma ação natural, e sim uma construção de cada época. Portanto, significa que o conceito de sexo muda de acordo com a convenção de cada sociedade. Sendo assim, o que é convenção seria considerado natural e adequado porque assim como "praticamente toda configuração imaginável de prazer pode ser institucionalizada como convenção."

Hoje, o interesse pelo estudo da Sexualidade é cada vez mais forte no mundo inteiro. Verificamos um avanço na tentativa de melhor capacitar os profissionais de diferentes áreas visando aumentar seus desempenhos em suas diferentes funções. Atualmente, além de médicos, temos psicólogos, enfermeiros e educadores investindo nessa área através do desenvolvimento de trabalhos de pesquisa aprofundados no tema. É importante ressaltar que, para uma melhor compreensão da dinâmica da sexualidade, é necessário uma desvinculação de valores próprios que podem trazer conclusões preconceituosas de uma determinada sociedade.

Sexualidade na Roma Antiga


Foto: Afresco achado em Pompeia. Love act; Roman fresco 
from the bedroom (Cubiculum) in the Casa del Centenario


A sexualidade na Roma Antiga é mencionada na arte, na literatura, em inscrições, e principalmente em achados arqueológicos, tais como artefatos eróticos, pinturas parietais e na arquitetura. A tradição posterior, por vezes, colocava a "prática sexual livre" como característica da antiga Roma, mas tais atitudes prática nunca obtiveram boa impressão no Ocidente desde a ascensão do cristianismo. Na imaginação popular e da cultura, tornaram-se sinônimo de libertinagem e abuso sexual.

Mas a sexualidade não foi exatamente uma preocupação da maioria dos romanos e sim as normas sociais tradicionais que afetavam a vida pública, privada e militar. Pudor e vergonha foram fatores de regulação do comportamento, como também as restrições legais sobre certas transgressões sexuais foram reguladas em ambos os períodos (Republicano e Imperial). Os censores eram funcionários públicos que determinavam a posição social dos indivíduos e serviam também para avaliar uma má conduta sexual e que tipo de comportamento deveriam adotar os cidadãos da ordem senatorial. Michel Foucault, em meados do século XX, considerou o sexo em todo o mundo greco-romano regido pela contenção e arte de administrar o prazer sexual.

A sociedade romana era patriarcal e a masculinidade baseava-se em uma capacidade para governar a si mesmo e outros de menor status, não só na guerra e na política, mas na cama também. A "Virtude" (virtus), termo relacionados pela etimologia para a palavra latina para "homem" (vir), era um ideal masculino, ativo, de auto-disciplina. O ideal era correspondente a uma mulher pudica, que frequentemente traduzido como a castidade ou modéstia, mas também uma qualidade mais positiva e até mesmo com uma conotação competitiva. As matronas, mulheres romanas das classes altas, eram criadas para serem bem educadas, de caráter forte, e firmes na manutenção de sua família na sociedade.

Algumas atitudes e comportamentos sexuais na cultura romana antiga diferem de uma maneira marcante daquelas nas sociedades ocidentais. A religião romana apoiava-se na sexualidade como um aspecto de prosperidade para o Estado, e os indivíduos podiam dirigir a prática religiosa privada ou "mágica" para melhorar a sua vida erótica ou saúde reprodutiva. A prostituição era legal, pública e generalizado. Pinturas pornográficas foram destaque entre as coleções de arte em respeitáveis ​​famílias da classe alta.

É importante ressaltar que uma análise enganosamente rígida, com um olhar recheado de valores contemporâneos, pode obscurecer as verdadeiras expressões da sexualidade entre os romanos. Ao contrário do que se é transmitido nos dias de hoje, a sexualidade no Mundo Antigo era vista como algo positivo, representada pelos próprios deuses. Mesmo que a relevância da palavra "sexualidade" para a cultura romana tem sido contestada, na ausência de qualquer outro rótulo para a interpretação cultural da experiência erótica, o termo continua a ser usado.

Sexo, a religião e o Estado


Foto: Afresco encontrado em Pompeia do deus 
romano Príapo conhecido por ter seu pênis sempre 
ereto demonstrando a ligação da sexualidade 
e da religião para os romanos


Como outros aspectos da vida romana, a sexualidade foi apoiada e regulada por tradições religiosas. Tanto o culto público do Estado quanto os cultos privados convergiam para práticas religiosas e mágicas. A sexualidade era uma categoria importante do pensamento religioso romano. O complemento do masculino e feminino foi fundamental para o conceito romano de divindade. Entre os objetos religiosos, o falo sagrado sempre foi muito importante e usado pelos romanos. Em linhas gerais, ele era um símbolo apotropaico, ou seja, tinha o poder de afastar o azar e as influências maléficas, ao mesmo tempo em que simbolizava a proteção junto à ideia de fertilidade e vida.

Os sacerdotes romanos deveriam se casar e ter família. Cícero declarou que o desejo (libido) de procriar era "o canteiro da República", como era a causa da primeira forma de instituição social, o casamento. O casamento produzia filhos e, por sua vez uma "casa" (domus) para a unidade da família, que era o alicerce da vida urbana. Muitas festas religiosas romanas tinham o elemento da sexualidade. Os Lupercalia, em fevereiro, comemorados até o século V da era cristã, incluíam um rito de fertilidade arcaico. Na, Floralia, mulheres dançavam nuas. Em certos festivais ao longo de abril, as prostitutas também participavam, com reconhecimento oficial. A associação entre a reprodução humana, a prosperidade geral e o bem-estar do Estado sempre foi encarnada pelo culto romano de Vênus, que difere de sua contraparte grega Afrodite em seu papel como mãe do povo romano através de seu filho semi-deus, Eneias.

Durante as guerras civis dos anos 80 a. C., o general Sila, prestes a invadir seu próprio país com as legiões sob seu comando, emitiu um denário representando uma Vênus coroada como sua protetora pessoal e um Cupido segurando um ramo de palma da vitória, e no reverso troféus militares que remetiam aos áugures. As divindades e as ligações de amor e desejo com o sucesso militar e a autoridade religiosa eram representadas nessas imagens ou objetos. Cupido inspirou o desejo, e o deus importado Priapo representava a luxúria bruta ou humorística; Mutuno Tutuno, equivalente latino de Priapo, promovia o sexo marital. O deus Liber supervisionava respostas fisiológicas durante a relação sexual. Quando um jovem assumia a toga viril, se tornava seu patrono - de acordo com os poetas líricos, ele deixava para trás a modéstia inocente (pudor) da infância e adquiria a liberdade sexual (libertas) para iniciar seu curso de amor.

Os grafites de Pompeia


Foto: Casa do Fauno, por volta de 1900.
Autor: Giorgio Sommer


A Casa do Fauno (em italiano: Casa del Fauno) é o nome pelo qual ficaram conhecidas as ruínas da casa construída durante o século II a.C. como uma das maiores e mais impressionantes casas romanas de residência em Pompeia, na Itália, e alberga algumas impressionantes obras de arte. É uma das mais luxuosas casas aristocráticas da República Romana, e reflete este período melhor do que qualquer outra evidência arqueológica encontrada na própria Roma.


Pompeia ou Pompeios (em latim: Pompeii) foi outrora uma cidade do Império Romano situada a 22 km da cidade de Nápoles, na Itália, no território do atual município de Pompeia. A antiga cidade foi destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C., que provocou uma intensa chuva de cinzas que sepultou completamente a cidade. Ela se manteve oculta por 1600 anos, até ser reencontrada por acaso em 1748. Cinzas e lama protegeram as construções e objetos dos efeitos do tempo, moldando também os corpos das vítimas, o que fez com que fossem encontradas do modo exato como foram atingidas pela erupção. Desde então, as escavações proporcionaram um sítio arqueológico extraordinário, que possibilita uma visão detalhada na vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga. Pompeia é considerada patrimônio mundial pela UNESCO, atualmente a cidade é uma das atrações turísticas mais populares da Itália, com aproximadamente 2,500,000 visitantes por ano.

Para os estudos sobre sexualidade na Roma antiga, os historiadores se juntam a estudiosos de outras áreas como a Arqueologia e a Antropologia para analisar os grafites e afrescos encontrados no sítio arqueológico de Pompeia - que eram manifestações populares feitas nas paredes da cidade - devido ao fato desse tipo de fonte ser a principal disponível aos pesquisadores para os estudos dessa área.


Foto: copia moderna dell'antica statuetta romana 
em bronze do Fauno dançante que deu o nome a "Casa del Fauno" 
em Pompeia. Autor: Radomil 01/10/2004


Um aspecto importante para o estudo da sexualidade em Roma é a ligação entre sexo e religião. Um exemplo dessa ligação é a origem dos deuses, que geralmente nascem do casamento e do ato sexual entre outros deuses. Essa também é a origem dos fundadores da cidade de Roma, Rômulo e Remo, filhos da união oculta entre Reia Sílvia e o deus Marte. Um outro exemplo disso é a representação do falo, símbolo amplamente encontrado em imagens e objetos, que, na visão dos romanos, é um símbolo relacionado à fertilidade e procriação, e portanto era usado em amuletos para boa sorte e contra maus espíritos. Além disso, o ato sexual e a verbalização do mesmo também tinham conotações sagradas e de prosperidade.

Os grafites encontrados em Pompeia, cuja escavação teve o auge durante o período fascista, no qual se buscava as origens da Itália na grandiosidade da Roma antiga, tratam dos mais variados temas, como menções a práticas sexuais, declarações de amor, manifestação de ciúmes etc. Como os documentos escritos encontrados se referem mais a assuntos oficiais como política, economia e guerra, essas manifestações são as fontes disponíveis para os estudos de assuntos do cotidiano romano, como a própria sexualidade. A utilização de técnicas de outras áreas é necessário porque as imagens são representações da realidade, mas possuem signos da cultura que ela representa, possuindo diversos significados.

Esses grafites se encontram em locais públicos, nos quais qualquer um poderia vê-los. Portanto, é possível considerar a sexualidade como um fenômeno cultural não apenas restrito à esfera da vida separada, mas sim parte de todas as outras esferas como a política, religião ou a economia.

Foto: Sátiro e Ninfa, símbolos mitológicos da sexualidade em um mosaico
de um quarto em Pompeia (Casa del Fauno). Fonte: Wikimedia Commons

Durantes muitos anos, as análises em relação a esses grafites eram feitas a partir dos conceitos judaico-cristãos sobre sexo, que é visto como um pecado e, portanto, as imagens eram vistas até como pornografia. Devido a essa forma de percepção em relação ao sexo, muitas dessas imagens foram destruídas ou escondidas do público geral no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. Apenas no ano 2000 essa coleção foi reaberta, mesmo com o veto do Vaticano à apresentação de "objetos obscenos", mas apenas com agendamento prévio e acompanhamento de um guia.

O Homossexualismo na Roma antiga


Foto: Afresco de uma relação sexual entre dois homens 
e uma mulher encontrada em termas em Pompeia

Considerava-se natural e normal para os homens adultos serem sexualmente atraídos por jovens de ambos os sexos, e a pederastia foi tolerada enquanto os parceiros mais jovens não eram romanos livres. "Homossexual" e "heterossexual" não formam a dicotomia primária do pensamento romano sobre a sexualidade, e nenhuma palavra latina existia para esses conceitos (ver mais abaixo).

Não havia censura moral a homens adultos que gostavam de atos sexuais com mulheres ou homens de status inferior, contanto que seus comportamentos não revelassem deficiências ou excessos, nem infringindo os direitos e prerrogativas de seus pares masculinos. Enquanto que a efeminação percebida era denunciada, especialmente na retórica política, o sexo com moderação com prostitutas ou escravos do sexo masculino não era considerado abusivo ou viciante da masculinidade, se o cidadão do sexo masculino levasse o ato ativo e não o papel de recepção. A hipersexualidade, no entanto, foi condenada moralmente e clinicamente em homens e mulheres. As mulheres são mantidas a um rigorosa código moral, e as relações homossexuais entre mulheres são pouco conhecidas, mas a sexualidade das mulheres é diversamente celebrada ou insultada em toda a literatura latina. Em geral, os romanos tinham categorias de gênero mais flexíveis do que os antigos gregos.

Segundo o autor Pedro Paulo Funari, para os romanos, as relações homossexuais - conhecidas em Roma como "amor grego" - eram aceitas desde que fosse entre um aristocrata e o seu escravo. No entanto, essa prática não era aceita entre dois cidadãos romanos. A diferença entre a visão dos gregos e dos romanos sobre a homossexualidade é que para os gregos haveria um cárater "pedagógico" na relação entre o homem mais velho (mestre) e o mais novo (aprendiz), como enunciado no diálogo Banquete de Platão.

Existe uma interpretação na qual o homem deve apenas penetrar e não ser penetrado, mas isso é relativo, pois há exemplos como Caio Júlio César que era conhecido por ser "esposa de todos os homens e marido de todas as mulheres". Segundo Funari, os romanos condenavam o ato de se vestir como alguém de outro sexo, e não as relações homossexuais.

Literatura erótica e Arte


Foto: Um casal no fundo de um espelho de bronze (70–90 AD). 
Outer side of hand mirror. Couple in bed. Antiquarium communale
Roma, Inv. 13694 Autor: John R. Clarke: Ars Erotica. Darmstadt: Primus 2009

A Literatura latina antiga com relação à sexualidade na Roma antiga se reporta praticamente a quatro categorias: textos jurídicos; textos médicos; poesia e discurso político. As formas de expressão com menor prestígio cultural na Antiguidade seriam a comédia, sátira, poesias amorosas, os grafites nas paredes, magias, inscrições e decoração de interiores, e essas categorias têm mais a dizer sobre sexo do que aquelas consideradas superiores, como a épica e a tragédia. Informações sobre a vida sexual dos romanos estão espalhadas na historiografia, oratória, filosofia e escritos sobre medicina, agricultura e outros tópicos técnicos.

Os principais autores latinos cujas obras contribuem significativamente para a compreensão da sexualidade romana incluem os esquetes cotidianos do dramaturgo Plauto (morreu em 184 a. C.),, que geralmente giram em torno de sexo e comédias de jovens amantes separados pelas circunstâncias; o estadista e moralista Catão, o Velho (morreu em 149 a. C.), que oferece vislumbres da sexualidade dos romanos que mais tarde serão considerados como tendo altos padrões morais; o poeta Lucrécio (morreu aprox. em 55 a. C.), que apresenta um tratamento mais amplo da sexualidade epicurista em sua obra filosófica; Catulo (aprox. 50 a. C.), cujos poemas exploram uma gama de experiência erótica perto do final da República, do romantismo delicado para um sexo brutalmente obsceno; Cícero (morreu em 43 a. C.), com discursos de tribunal que frequentemente atacam a conduta sexual da oposição e as cartas salpicadas com fofocas sobre a elite de Roma; os poetas augustanos Propércio e Tibulo, que revelam atitudes sociais em descrever casos de amor com amantes; Ovídio (morreu em 17 d. C.), especialmente com suas obras "Relacionamentos Amorosos" (Amores) a "Arte do Amor" (Ars amatoria), que segundo a tradição contribuíram para a decisão de Augusto de exilar o poeta, e seu épico, as Metamorfoses, que apresentam uma vasta temática sexual, com ênfase em estupro, através das lentes da mitologia; o poeta epigramático Marcial (morreu em 102 ou 104 d. C.), cujas observações da sociedade estão com atitudes de sexo explícito; o satirista Juvenal (morreu no início do séc. II d. C.), que esbravejava contra os costumes sexuais do seu tempo.

A arte erótica, especialmente as preservadas em Pompeia e Herculano, é uma rica e inequívoca fonte. Algumas imagens contradizem as preferências sexuais mostradas em fontes literárias e podem ter a intenção de provocar riso ou desafio para atitudes convencionais. Objetos cotidianos como espelhos e vasos podem ser decorados com cenas eróticas. Pinturas eróticas foram encontradas nas casas mais respeitáveis da nobreza romana. A arte erótica em sua configuração arquitetônica também pode ser vista em Roma. Vênus carregada de erotismo aparece entre várias imagens. A decoração de um quarto romano poderia refletir (literalmente) a sua utilização sexual. No século II, há um “boom” nos textos sobre sexo em grego e latim, junto com romances. No século III, como o Cristianismo se tornou institucionalizado, os Padres da Igreja, como Tertuliano e Clemente de Alexandria debateram a legitimidade do sexo conjugal para procriação em relação a um ideal de celibato.

Conceitos morais e legais


Castitas


A palavra latina castitas, da qual a "castidade" em português se deriva, é um substantivo abstrato que denota "uma pureza moral e física geralmente em um contexto especificamente religioso", que geralmente se refere à castidade sexual. O adjetivo relacionado castus (feminino casta, neutro castum), "pura", pode ser usado para lugares e objetos, bem como pessoas; pudicus ("casto, modesto") é usado como um adjetivo que descreve uma pessoa que é sexualmente moral. A deusa Ceres estava ligada com ambos os rituais e à castitas sexual, e os rituais realizados em sua honra, como parte da procissão do casamento romano, que era associada à pureza da noiva; Ceres também incorporava a maternidade. A deusa Vesta era a divindade principal do panteão romano associada a castidade.

Foto: Allegory of Chastity óleo sobre tela, 1475.
Autor: Hans Memling (cerca de 1433 – 1494)

Stuprum


No discurso jurídico e moral latino, stuprum é a relação sexual ilícita, traduzível como "libertinagem criminal" ou "crime sexual". Stuprum engloba diversos crimes sexuais, incluindo incesto, estupro ("relações sexuais ilegais pela força") e adultério. Na Roma antiga, stuprum era um ato vergonhoso em geral, ou qualquer desgraça pública, incluindo mas não limitado a sexo ilícito. A proteção contra a má conduta sexual estava entre os direitos legais que distinguiam o cidadão do não-cidadão.

Foto: Óleo sobre tela. Tarquinius e Lucretia. O estupro da Lucrécia (Roma).
Paris. O suicídio da vítima causou muitas reflexões nas artes e na sociedade
sobre a legitimação do estupro. Autor: Ticiano (1490–1576)

Raptus


Na lei romana, o rapto tinha mais o significado de "sequestro" do que de "estupro" - vide o relato mítico do rapto das Sabinas quando da fundação de Roma. O rapto de uma jovem solteira da família de seu pai em algumas circunstâncias era considerado a partir da fuga do casal, quando não havia a permissão do pai para se casar. O estupro foi mais frequentemente expresso como stuprum, que significava que era cometido através da violência ou coação. Quando as leis relativas à violência foram codificadas, no fim da República, o raptus ad stuprum, "rapto com o propósito de cometer um crime sexual", surgiu como uma distinção legal.


Foto: Versão satírica do Rapto das Sabinas
Autor: John Leech


Cura e magia


Foto: Erotic terracotta sculptures. Oferendas votivas
em Pompeia com representações de seios e pênis.
Fonte: 
Wikimedia Commons 

As oferendas votivas são aquelas ofertas que não são de comida ou bebida, ou seja, que não se deterioram. Exemplos de ofertas votivas são estátuas, vestidos, danças, templos, hinos, músicas e meditações. Normalmente as oferendas votivas são feitas em agradecimento por algo, como a resposta a um pedido ou para afastar algum mal. Podem também fazer parte integral de alguns algumas estatuetas que se ofereciam a Asclépio. Asclépio, no panteão grego ou Esculápio, no romano; é o principal deus da Medicina, representando a parte do corpo que necessitava de cura.

A ajuda divina pode ser procurada em rituais religiosos privados, juntamente com tratamentos médicos para melhorar a fertilidade ou para curar doenças dos órgãos reprodutores. Oferendas votivas, ex votos, em forma de seios e pênis foram encontrados em santuários de cura.

Um ritual privado em algumas circunstâncias podia ser considerado "mágico", uma categoria indistinta na antiguidade. Os Papiros Mágicos Gregos, uma coleção de textos mágicos sincrética do período romano do Egito, contém feitiços de amor e muitos que indicam "que havia um mercado muito grande em magia erótica no período romano", servidos por sacerdotes que colocavam a serviço sua autoridade religiosa. Canídia, uma bruxa descrita por Horácio no Epodo, realizava um feitiço usando uma efígie feminina para dominar um boneco menor do sexo masculino.

Afrodisíacos, anafrodisíacos, contraceptivos e abortivos foram preservados tanto em manuais de medicina quanto em textos mágicos. Em seu livro de 33 medicamentos, Marcelo Empírico, um contemporâneo de Ausônio (séculos IV e V d. C.), recolheu mais de 70 medicamentos relacionados com tratamentos para tumores e lesões nos testículos e pênis, como por exemplo testículos que não desceram, disfunção erétil e hidrocele.

"Há uma erva chamada Nymphaea em grego. Sua raiz, bate-se uma pasta e coloca-se em vinagre durante dez dias consecutivos: esse processo tem o efeito surpreendente de transformar um menino em um eunuco."

Marcelo também registra que as ervas podiam ser usadas para induzir a menstruação ou para limpar o útero após o parto ou aborto. Outras fontes de remédios, como o revestimento do pênis com uma mistura de mel e pimenta para se obter uma ereção ou ferver os genitais de um jumento em petróleo, podiam ser usados como pomada.


Teorias antigas sobre a sexualidade


Epicurismo


Foto: Pan e Dafni. Copia romana em mármore
do original grego. Pã ensinando Dáfnis a tocar
aflauta de pã. Collezione Farnese. Local: Museu
Arqueológico de Nápoles. Autor: Eliodoro (III-II sec. a.C.)


O quarto livro da obra "Sobre a Natureza das Coisas" (De Rerum Natura'), de Lucrécio, oferece uma das passagens mais extensas sobre a sexualidade humana na literatura latina. Lucrécio foi contemporâneo de Catulo e Cícero, em meados dos século I a. C. Ele descreve que o bem supremo é o prazer, definido como a ausência de dor física e sofrimento emocional. O epicurista procura satisfazer seus desejos com o mínimo dispêndio de paixão e esforço. Os desejos são classificados como aqueles que são naturais e necessários, tais como fome e sede, aqueles que são naturais, mas desnecessários, tais como sexo e aqueles que não são nem naturais, nem necessários, incluindo o desejo de governar sobre os outros e se glorificar a si mesmo. É nesse contexto que Lucrécio apresenta sua análise sobre o amor e o desejo sexual, o que contraria o ethos erótico de Catulo e influencia os poetas do amor do período de Augusto.

Lucrécio trata do desejo masculino, do prazer sexual feminino, da hereditariedade e da infertilidade como outros aspectos da fisiologia sexual. Na visão epicurista, a sexualidade surge de uma forma impessoal com causas físicas, sem a influência divina ou sobrenatural. O início da maturidade física gera sêmen, e sonhos molhados ocorrem quando o instinto sexual se desenvolve. A percepção sensorial, especificamente com a visão de um belo corpo, provoca o movimento de sêmen na genitália que vai em direção ao objeto de desejo. O ingurgitamento dos genitais cria um desejo de ejacular, juntamente com a antecipação do prazer. A resposta do corpo à atratividade física é automática, e nem o caráter da pessoa desejada, nem de sua escolha própria são fatores predominantes. Com uma combinação de imparcialidade científica e humor irônico, Lucrécio trata o desejo sexual humano como um cupido, "desejo irracional", comparando a ejaculação como uma resposta fisiológica, como a do sangue jorrando de uma ferida. O amor seria meramente uma elaboração da postura cultural que obscurece uma condição glandular; o prazer sexual, assim como a vida, está contaminado pelo medo da morte. Lucrécio está escrevendo principalmente para um público masculino, e assume que o amor é uma paixão masculina, dirigida a qualquer um, meninos ou mulheres. O desejo masculino é visto como patológico, frustrante e violento. Lucrécio, no entanto, expressa uma visão menso negativa da sexualidade feminina: enquanto os homens são movidos por expectativas que não são naturais ao praticar sexo unilateral e desesperado, as mulheres atuam em um instinto puramente animal em direção à afeição que leva à satisfação mútua.

Tendo analisado o ato sexual, Lucrécio, em seguida, considera a concepção, que em termos modernos seria chamado de genética. Tanto o homem quanto a mulher, diz ele, produzem fluidos genitais, que em um ato pro-criativo de sucesso se misturam e a criança será gerada. As características da criança são formadas pelas proporções relativas da "semente" da mãe para o pai. Uma criança que mais se assemelha à mãe nasce quando a semente do sexo feminino domina o do masculino, e vice-versa. Quando nem semente do macho nem da fêmea domina, a criança terá traços da mãe e do pai uniformes. A infertilidade ocorre quando os dois parceiros não conseguem fazer um jogo satisfatório de sua descendência depois de várias tentativas, e a explicação para a infertilidade é fisiológica e racional, e não tem nada a ver com os deuses. A transferência da "semente" genital, seminal, está em consonância com a física epicurista.

A finalidade de Lucrécio era corrigir a ignorância e dar o conhecimento necessário para gerenciar a vida sexual de forma racional. Ele distingue entre o prazer e a concepção como objetivos da cópula. Ambos são legítimos, mas exigem abordagens diferentes. Ele recomenda sexo casual como uma forma de liberar a tensão sexual, sem se tornar obcecado com um único objeto do desejo; uma prostituta comum, deve ser usada como um substituto. Sexo sem apego apaixonado produz uma forma superior de prazer, livre de incerteza, frenesi e perturbação mental. Lucrécio chama de vénus esta forma de prazer sexual, em contraste com o prazer apaixonado, amor. O melhor sexo é o de animais felizes, ou dos deuses. Lucrécio combina uma desconfiança epicurista do sexo como uma ameaça à paz de espírito com os valores culturais romanos, colocando a sexualidade como um aspecto da vida matrimonial e familiar. Retratado como um homem epicurista em um casamento tranquilo e amigável e com uma boa mulher, mas caseira, Lucrécio reage contra a tendência romana de mostrar o sexo ostensivamente, como na arte erótica, e rejeita o agressivo, o modelo Priapo da sexualidade estimulada por apelo visual.

Pecado original


Uma doutrina cristã que pretende explicar a origem da imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda do homem. Tal doutrina não existe no Judaísmo nem no Islamismo. Foi desenvolvida por bispo Irineu de Lyon (ca. 130 — 202), em sua controvérsia com o dualismo do Gnosticismo.

A doutrina do pecado original se apóia em várias passagens das Escrituras: a epístola de Paulo aos Romanos (5:12-21) e aos Coríntios (1 Co 15:22), e uma passagem do Salmo 51. Mas primeira exposição sistemática sobre o pecado original - de cuja interpretação derivaram todas as controvérsias - é a de Agostinho de Hipona, no século IV . Foi também no século IV que se deu a conversão do Império Romano ao catolicismo. Segundo Le Goff, o dogma do pecado original teria contribuído para aumentar o poder de controle da Igreja sobre a vida sexual, na Idade Média. 

Segundo a doutrina, os primeiros seres humanos e antepassados da humanidade, Adão e Eva, foram advertidos por Deus de que, se comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreriam. No entanto, instigados pela serpente, ambos comeram o fruto proibido, tendo Eva cedido primeiramente à tentação e posteriormente oferecido o fruto a Adão, que o aceitou. Ambos continuaram vivos, mas foram expulsos do Jardim do Éden. Existem polêmicas quanto ao significado real dessa narrativa, bem como em que se constituiria tal pecado, se é que seria realmente algum. Algumas denominações cristãs recentes chegam mesmo a negar a sua existência. Na perspectiva cristã, contudo, a morte (imerecida) de Cristo é recorrentemente suposta como necessária para salvar os seres humanos desse "pecado de origem", que seria congênito e hereditário.

Nenhum trecho bíblico traz esclarecimentos que possam colocar fim a essa que é uma das maiores questões do cristianismo. As doutrinas a respeito do pecado original têm sido historicamente um dos principais motivos para o surgimento de heresias e para os cisma entre os cristãos, desde os primeiros séculos da era cristã. Várias interpretações divergentes sobre o significado da narrativa contida no livro do Gênesis foram dadas por teólogos, antropólogos e psicanalistas.

A questão do pecado aparece no cristianismo principalmente em Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), que associa o pecado à culpa herdada por todo o gênero humano depois que Adão e Eva sucumbiram à tentação do Diabo e, devido ao seu orgulho e egoísmo, rejeitaram o amor e a obediência devida a Deus. Assim sendo, o pecado original tem para Agostinho um caráter congênito e hereditário, pois em Adão toda a humanidade pecou, abrindo as portas para a entrada do mal, da morte física e espiritual e de todas as suas consequências.

Surge então a questão do Pelagianismo. Pelágio (360 - 435) vê no pecado uma espécie de exemplo a não ser seguido, o que faria com que a salvação dependesse exclusivamente do ser humano. Segundo Pelágio o pecado não seria congênito nem transmitido, mas seria adquirido por imitação. Para Pelágio, o homem nasceria bom e inocente. Agostinho discorda dessa tese e vê nas doutrinas pelagianas a manifestação da presunção humana que erroneamente levaria a supor que a salvação depende apenas de nossa vontade, de nossos próprio atos, escolhas e obras, negando o caráter salvador e redentor de Jesus Cristo. A visão agostiniana do pecado original foi herdada por todo o cristianismo ocidental e está presente em todas as denominações cristãs históricas católicas ou protestantes.

Adão e Eva


Foto: Adão e Eva, Óleo sobre madeira. 
Autor: Lucas Cranach, o Velho (1472–1553) 


A semente da serpente é uma nova revelação doutrinária sobre a questão do pecado original. Esta nova revelação foi recebida por um evangelista americano que viveu no século XX (1909 - 1965), chamado William Marrion Branham. Baseado em tradições apócrifas judaicas e gnósticas, Branham afirmava ter recebido a revelação particular de que o Pecado Original teria sua origem no fato de Eva ter copulado com a serpente, a qual introduzira nas gerações humanas sua semente, dando origem a posteridade de Caim, a qual contaminou toda a humanidade.

Judaísmo e Islamismo


Para o Judaísmo e o Islamismo, não há pecado original. Judeus e muçulmanos adotam a doutrina pelagiana, embora segundo a doutrina muçulmana todos os seres humanos ao nascerem sejam tocados pelo Diabo.

Exceções


Todas as religiões cristãs compartilham a crença de que Jesus Cristo nasceu sem o pecado original. Sua natureza era em tudo igual à humana com exceção do pecado.

A Igreja Católica Romana, no século XIX, mais precisamente no ano de 1854 através do Papa Pio IX acrescentou a seus dogmas mais uma exceção, a Virgem Maria, mãe de Jesus, que teria sido concebida sem o Pecado Original: é o dogma da Imaculada Conceição. Segundo este dogma, a Virgem Maria teria sido preservada desde sua concepção de toda contaminação do Pecado Original devido a providência divina, pois ela haveria de ser a Mãe de Jesus Cristo. Esta doutrina de origem Franciscana data da Baixa Idade Média, tendo sido combatida enfaticamente por grandes expoentes da doutrina católica especialmente pelos Dominicanos entre os quais São Tomás de Aquino e pelo Cisterciense São Bernardo de Claravaux.

O Islamismo afirma que a Virgem Maria não foi tocada por Satanás ao nascer.

As Igrejas Ortodoxas Orientais afirmam que a Virgem Maria nasceu com o Pecado Original. Entretanto, ela foi preservada devido a graça divina de todo e qualquer pecado atual, até ser completamente purificada do Pecado Original quando se deu a encarnação do Verbo durante a Anunciação.

Foto: Sistine Chapel. Um afresco demonstrando a expulsão de Adão
e Eva do jardim do Éden por seu pecado original. Autor: Michelangelo (1475–1564)

Visão na psicanálise


Na perspectiva psicanalista foi sugerido que o pecado mencionado no Gênesis teria sido o ato sexual. Esta explicação não encontra, contudo, raízes nas tradições judaicas pré-cristãs, em que a união carnal entre o homem e a mulher foi estabelecida por Deus. Entretanto se o pecado original fosse o ato sexual, Deus mesmo teria induzido o homem ao pecado, quando ordenou, crescei, multiplicai e enchei a Terra.

Segue-se uma das explicações "antropológicas" (entendida no contexto de que o livro sagrado pretende a apresentação de uma explicação ou uma construção explicativa das origens do universo, do nosso mundo, da humanidade, da civilização em geral e da hebraica em particular, e por fim das origens do bem e do mal): Até atingir a fase da "civilização" o homem vivia no "estado de natureza", em oposição ao "estado de cultura", explicação essa totalmente compatível com o evolucionismo darwinista. O comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal seria o divisor de águas, ou seja a ruptura da comunhão entre o ser humano e a natureza. A partir de então o homem passou a reconhecer-se como separado e independente da natureza, adquirindo consciência de sua morte e finitude, adotando valores, crenças e objetivos independentes da natureza. Deu-se a traumática transição do animal para o hominal, como definia Teilhard de Chardin.

Como consequência, o homem se envergonhou da nudez, tomou consciência da morte e da mortalidade, e passou a trabalhar para acumular.

O texto ainda lança uma espécie de enigma da transcendência: a árvore da vida com seu fruto, impedida ao homem pelas espadas flamejantes de querubins. Não se trata, evidentemente, de frutas nem árvores, mas de um simbolismo espiritual cujo significado vem desafiando a humanidade ao longo dos milênios: o desejo de viver eternamente.


A "Serpente" 


Serpente é uma palavra de origem do latim (serpens, serpentis) que é normalmente substituída por "cobra" especificamente no contexto mítico, com a finalidade de distinguir tais criaturas do campo da biologia. 

As Serpente do mar são criaturas gigantes cryptozoologia uma vez acreditou-se viverem na água, seriam monstros do mar tais como o Leviathan ou monstros do lago tais como o monstro do lago Ness. Se forem referidas como "serpentes do mar", foram entendidos para ser as atuais serpentes que vivem nas águas Indo-Pacíficas (família Hydrophiidae). 

Na historia existem poucos animais tão ricos em significados simbólicos como a serpente. Ofídio sagrado ou representação do mal, habitante dos pântanos, da lama, da turfa, ser rastejante, príncipe do mal, ela é silenciosa e fatal, surge dos confins mais obscuros da nossa psique, cujos sonhos e fantasias alimentam e faz surgir angustias e desejos, atração e repulsão. 
Para a maioria da população a serpente desempenha papel extraordinário em sua cultura, é muito usada como símbolo (veremos a seguir). Devemos ressaltar sua posição privilegiada no reino animal.


Serpente: na Mitologia 


Foto: Estatueta minoica da Deusa 
das serpentes a.C. 1.600

A serpente é uma antiga divindade da sabedoria no Médio Oriente e na região do mar Egeu, sendo, intuitivamente, um símbolo telúrico. No Egito, Rá e Áton ("aquele que termina ou aperfeiçoa") eram o mesmo deus. Áton o "oposto a Rá," foi associado com os animais da terra, incluindo a serpente. Nehebkau ("aquele que se aproveita das almas") era o deus da serpente que guardava a entrada do mundo subterrâneo. Se nos afastarmos mais, tanto em termos geográficos como culturais - por exemplo, até às ilhas Fiji, encontramos Ratu-mai-mbula, um deus-serpente que governa o mundo subterrâneo (e faz a energia vital fluir). 

No museu do Louvre, existe um vaso verde esteatite esculpido para o rei Gudea de Lagash (data aproximada entre 2200 a.C. e 2025 a.C.), dedicado na inscrição a Ningizzida, "senhor da árvore da verdade" que carrega um relevo das serpentes gêmeas em volta dos sacerdotes, exatamente como os caduceus de Hermes. Na mitologia Grega a serpente também aparece como símbolo da sabedoria, (símbolo da medicina) com Asclépio. 

Na distante extremidade ocidental do mundo da antiguidade, no jardim das Hespérides, uma outra serpente guardiã da árvore Ladão, protege a fruta dourada. 

A grande Deusa mãe Minoica, Potnia Theron pode manusear uma serpente em uma das mãos, talvez evocando o papel como a fonte da sabedoria, melhor que o papel como a senhora dos animais (Potnia theron), com um leopardo sob cada braço. Não por acaso mais tarde o infante Héracles, um herói limítrofe entre o velho e o mundo novo de Olympia, também manuseara duas serpentes que "o ameaçaram" no berço. Os gregos clássicos não perceberam que a ameaça era meramente a ameaça da sabedoria. Mas o gesto é o mesmo que aquele da divindade de Creta. A haste que Moisés carrega é uma serpente. Quando a joga para a terra, ao comando de Yahweh, ela toma a forma de serpente. Se a identidade não puder ainda estar desobstruída o bastante, quando Moisés segura a serpente, esta se transforma em uma haste uma vez mais. 

As serpentes são figuras proeminente em mitos gregos muito arcaicos: o mito-elemento de Laocoonte, a antiga Hidra de Lerna, que lutou com Hércules, a serpente do mais velho oráculo de Delfos, entre outras. 

A imagem da serpente como a incorporação da sabedoria transmitida pela deusa Sophia é um emblema usado pelo gnosticismo, especialmente as seitas mais ortodoxas caracterizadas como Ofídeas, ("Homens Serpente"). A serpente é um dos animais associados com o culto de Mitras. O Basilisco, o famoso "rei das serpentes" com o bote da morte, foi atacado por uma serpente, Pliny e outros pensaram, do ovo ao adulto. Tais fantasias povoaram o pensamento medieval. 


Serpente: na Mitologia nórdica 



Mitologia nórdica, também chamada de mitologia germânica, mitologia Viking ou mitologia escandinava, é o nome dado ao conjunto de religiões, crenças e lendas pré-cristãs dos povos escandinavos, incluindo aqueles que se estabeleceram na Islândia, onde a maioria das fontes escritas para a mitologia nórdica foram construídas. Esta é a versão mais bem conhecida da mitologia comum germânica antiga, que inclui também relações próximas com a mitologia anglo-saxônica. Por sua vez, a mitologia germânica evoluiu a partir da antiga mitologia indo-européia. 

A mitologia nórdica é uma coleção de crenças e histórias compartilhadas por tribos do norte da Germânia (atual Alemanha), sendo que sua estrutura não designa uma religião no sentido comum da palavra, pois não havia nenhuma reivindicação de escrituras que fossem inspirados por algum ser divino. A mitologia foi transmitida oralmente principalmente durante a Era Viking, e o atual conhecimento sobre ela é baseado especialmente nos Eddas e outros textos medievais escritos pouco depois da cristianização. 

No folclore escandinavo estas crenças permaneceram por mais tempo, e em áreas rurais algumas tradições são mantidas até hoje, recentemente revividas ou reinventadas e conhecidas como Ásatrú ou Odinismo. A mitologia remanesce também como uma inspiração na literatura, assim como no teatro, na música e no cinema 

Em Jormungand, a serpente de Midgard, abraça o mundo no abismo do oceano. 


Serpente: na mitologia de Daomé 



O Dahomey (Daomé em português) era um Estado da África, situado onde hoje se situa o Benim. O reino foi fundado no século XVII (c. 1625) e durou até 1900, quando foi conquistado com tropas senegalesas pela França e incorporado às colônias francesas da África Ocidental. 

Em 1985, os Palácios Reais de Abomei, a capital daquele reino, foram consideradas Património Mundial, pela UNESCO 

Da África ocidental, a serpente que suporta tudo em suas muitas espirais é nomeada Dan. Vishnu é posta a dormir no yoga Nidra, flutuando nas águas cósmicas na serpente Shesha. 

Por a serpente tirar sua pele e sair do esconderijo da casca morta brilhante e fresca, ela é um símbolo universal da renovação, e a regeneração que pode conduzir para imortalidade. 


Serpente: na Epopéia de Gilgamesh 



Gilgamesh (ou Gilgamexe) foi um rei da Suméria, de caráter semi lendário, mais conhecido atualmente por ser o personagem principal da Epopéia de Gilgamesh, um épico mesopotâmico preservado em tabuletas escritas com caracteres cuneiformes. 

Segundo a Lista de reis da Suméria, um antigo texto sumério datado da Idade do Bronze, Gilgamesh foi o quinto rei da primeira dinastia de Uruk, datada de aproximadamente 2750 AC. Ainda segundo a lista, era filho de um "demônio" ou "fantasma" (o significado da palavra no texto é incerto) e seu reinado teria durado 126 anos. Seu filho e sucessor, Ur-Nungal, reinou 30 anos. Outro documento, a Inscrição de Tummal, aponta Gilgamesh como o segundo reconstrutor do templo de Tummal, dedicado à deusa Ninlil, na cidade santa de Nippur. 

Após seu reinado, e assumindo que tenha sido um personagem histórico real, Gilgamesh foi considerado o mais ilustre antecessor dos reis sumérios, tornando-se objeto de lendas e poemas e sendo venerado como deidade. Vários relatos sobre seus feitos são conhecidos de maneira fragmentária a partir do segundo milênio AC, os mais antigos em sumério e os mais recentes em Acádia. Numa destas lendas, Gilgamesh enfrenta e vence a Aga, rei de Kish, consolidando a independência de Uruk. Essa lenda, assim, reflete as lutas pela supremacia entre as cidades mesopotâmicas no início da história suméria. Na história da luta contra Aga um dos guerreiros mais destacados de Gilgamesh é Enkidu, que posteriormente é retratado como amigo do herói na Epopeia de Gilgamesh 

De origem suméria, Gilgamesh mergulha no fundo das águas para recuperar a planta da vida. Mas quando decide descansar do seu trabalho, aparece uma serpente que come a planta. A serpente torna-se imortal, e Gilgamesh fica destinado a morrer. 


Serpente: na Mitologia Yoruba



A mitologia dos iorubás engloba toda a visão de mundo e as religiões dos iorubás, tanto na África (principalmente na Nigéria e na República do Benin) quanto no Novo Mundo, onde influenciou ou deu nascimento várias religiões, tais como a Santería em Cuba e o Candomblé no Brasil em acréscimo ao transplante das religiões trazidas da terra natal. A mitologia Iorubá é definida por Itans de Ifá. 

Oshumare é do mesmo modo uma serpente mítica regenerada serpente da visão. 


Serpente: na Mitologia Maia 



A mitologia maia se refere às extensivas crenças politeístas da civilização maia pré-colombina. Esta cultura mesoamericana seguiu com as tradições de sua religião há 3.000 anos até o século IX, e inclusive algumas destas tradições continuam sendo contadas pelos maias modernos. 

São só três textos maias completos que sobreviveram através dos anos. A maioria foi queimada pelos espanhóis durante sua invasão da América. Portanto, o conhecimento da mitologia maia disponível na atualidade é muito limitado. 

O Popol Vuh (ou Livro do Conselho dos indianos quiché) relata os mitos da criação da Terra, as aventuras dos deuses gêmeos, e a criação do primeiro homem. 

Os livros de "Chilam Balam" também contêm informação sobre a mitologia maia, geralmente descrevem as tradições desta cultura. 

As crônicas de Chacxulubchen é outro texto importante para a compreensão da mitologia maia. 

A serpente é um símbolo da ressurreição, abastecendo alguns contextos culturais além do Atlântico favorecidos na pseudo arqueologia Maya. Gukumatz, a serpente emplumada é mais familiar sob seu nome Asteca, Quetzalcoatl. 


Serpente: no Tanakh 



O Tanakh ou Tanach (em hebraico תנ״ך) é um acrônimo utilizado dentro do judaísmo para denominar seu conjunto principal de livros sagrados, sendo o mais próximo do que se pode chamar de uma Bíblia judaica. 

O conteúdo do Tanakh é equivalente ao Antigo Testamento cristão, porém com outra divisão. De acordo com a tradição judaica, o Tanakh consiste de vinte e quatro livros 

A 'serpente falante' (nachash) no Jardim do Éden induziria conhecimento proibido, mas não é identificado com Satã no Livro do Gênesis. Não há, contudo indicação no Gênesis que a serpente era uma divindade em seu próprio direito, com exceção do fato que o Pentateuco não é de outra maneira abundante como animais falantes. 

A informação dada pela Serpente poderia ser proibida, e foram as suas palavras as primeiras mentiras relatadas na bíblia. "...certamente não morrereis...". 

"Agora a serpente era mais sutil do que qualquer animal do campo que o senhor Deus fez (Gênesis 3:1)". 

A serpente é a manifesta personificação da desobediência e da provocação a Deus. Por este motivo foi sempre associada a uma representação das forças do mal. O porquê da utilização desta personificação na Bíblia pode dar-se ao fato de que o processo narrativo que levou à criação deste mito tenha origem em fatos transmitidos através de gerações até ao egípcio Moisés autor deste episódio de Gênesis. 



Serpente: como figura mitológica no Oriente Médio


Foto: A serpente Ouroboros em um antigo manuscrito
alquímico grego. Fonte: Wikimedia Commons

A serpente é um objeto de culto extremamente difundido entre todas as civilizações pagãs. Arqueólogos têm descoberto objetos de culto à serpente desde pelo menos a Idade do Bronze em várias cidades pré-Israelitas de Canaã: dois em Megiddo, uma em Gezer, uma no sanctum sanctorum do templo Area H em Hazor, e dois em Shechem. Nas regiões que circundam um antigo santuário hitita, ao norte da Síria, existe uma estátua de bronze de um deus segurando uma serpente numa das mãos. Na Babilônia do século XVI, há um par de serpentes de bronze ladeando cada uma das quatro entradas do templo de Esagila. No Festival do Ano Novo da Babilônia, o sacerdote financiava o carpinteiro e o ourives para fazer duas imagens, cada uma das quais "deve exibir à esquerda uma serpente de cedro, elevando a mão direita ao deus Nabu". Em Tepe Gawra, pelo menos dezessete serpentes da época da Idade do Bronze dos assírios foram descobertas. O deus sumério da fertilidade Ningizzida foi muitas vezes descrito como uma serpente com uma cabeça humana, e até se tornando um deus da cura e da magia.

Albert Pike, em seu livro, Morals and Dogma, explica: "A serpente, enrolada em um ovo, era um símbolo comum para os egípcios, os druidas e os indianos. É uma referência à criação do universo".


Serpente: Yavé, a serpente da deusa Aserá



De acordo com Joseph Campbell, Yavé deve ter origem numa serpente que foi parceiro da Deusa mãe Aserá. Isto se reflete na identidade de Yavé com o deus egípcio Seth, e semelhança das práticas entre o culto egípcio de Set e Yahwism (o termo acadêmico para a religião de Judá antes do período do Exílio), tal como o sacrifício do novilho vermelho (detalhado no livro de Plutarco sobre Ísis e Osíris), bem como a semelhança entre Yahweh e a lenda da serpente-de-pernas grega Tifão, cuja imagem aparece com o nome "Ia", "Iah" or "Yah" em vários amuletos encontrados nos inscritos dos Macabeus (cf. Campbell).

Serpente: no Novo Testamento 

Foto: representação do pecado original. 
Fonte: Royalty free


A Serpente é claramente associada ao Diabo no Novo Testamento. No livro do Apocalipse de São João está escrito: "E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos." (Ap 20:1,2) 

Em "Mateus 23:33", Jesus observa "Serpentes, gerações de víboras, como podemos escapar da dominação de Gehenna?" ("inferno" é a tradução para "Gehenna"). Gehenna se refere a uma figura do Inferno usada por Jesus, na verdade se trata de um local que existe até hoje em Israel, um tipo de depósito de entulho da cidade, que na antiguidade foi um local de culto ao deus Moloc, e onde eram realizados sacrifícios humanos a esse deus, um tipo de culto de prostituição ritual, seguido de uma espécie de "aborto" religioso, já que os filhos eram queimados ao fogo. Em geral a serpente é usada como um símbolo voltado para o demônio, e para o mal no Catolicismo e no Protestantismo, e nas principais vertentes do Cristianismo bem como do Judaísmo. 


Serpente: como símbolo 



Embora seja usada como símbolo de regeneração e Imortalidade, a serpente, quando formando um anel com a cauda em sua boca, é também um claro símbolo da unidade em tudo e todos, a totalidade da existência. 

Serpentes envolviam os seguidores de Hermes (o caduceu, "ilustração à esquerda") e de Asclepius, onde uma única serpente envolvia o cedro. No caduceu de Hermes, as serpentes não eram simetricamente gêmeas, elas pareciam adversárias. As asas sobre o cedro são identificadas como asas mensageiras; Hermes o Mercúrio para os romanos, que era o mestre da diplomacia e retórica, de invenções e descobertas, protetor dos comerciantes e dos aliados e na visão dos mitologistas, dos ladrões. 

Na Antiguidade clássica, com avanço no estudo da alquimia, Mercúrio foi reconhecido como o protetor destas artes e outras informações 'ocultas' em geral, " Herméticas". 

Assim a Química e a medicina associaram o bastão de Hermes com os discípulos do curador Asclepius, que era envolvido por uma serpente; o bastão de Mercúrio e o moderno símbolo médico, que podia simplesmente ser o bastão de Asclepius, tornou-se um bastão do comércio. O historiador de arte J. Friedlander, em O Bastão dourado da Medicina: A História do Símbolo caduceu na Medicina (1992) coletou centenas de exemplares de caduceus e bastões de Asclepius e descobriu que as associações profissionais eram mais relacionadas aos bastões de Asclepius, enquanto as organizações comerciais na área médica eram mais relacionadas ao caduceu. 


Foto: Caduceu, símbolo da medicina.
Fonte: Wikimedia Commons
 


O caduceu ou emblema de Hermes (Mercúrio) é um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com asas. É um antigo símbolo, cuja imagem pode ser vista na taça do rei Gudea de Lagash, 2.600 anos a.C., e sobre as tábuas de pedra denominadas, na Índia, nagakals. Esotericamente, está associado ao equilíbrio moral, ao caminho de iniciação e ao caminho de ascensão da energia kundalini. A serpente da direita é chamada Od, que representa a vida livremente dirigida; a da esquerda Ob, vida fatal e o globo dourado no cimo Aur, que representa a luz equilibrada. Estas duas serpentes opostas figuram forças contrárias que podem se associar mas não se confundir. É frequentemente confundido com o símbolo da medicina, o bordão de Esculápio ou bastão de Asclépio.

Uma similar conversão de bastão para serpente foi experimentada por Moisés e mais tarde seu irmão Aarão: e O Senhor lhe disse, O que você tem em suas mãos? E este respondeu, um bastão. E foi lhe dito para por o bastão no chão. O bastão estava no chão, e transformou-se em serpente; e Moisés cobriu-o antes. E o Senhor disse a Moisés, Ponha a mão sobre ela e pegue-a pela cauda. E ele pôs a mão sobre ela e a pegou pela cauda, e ela transformou-se em um bastão em sua mão ( Êxodo 4:2-4).


As diversas categorias de serpentes


A SERPENTE (mitologia hindu)

  • A naja é a mais mortal das serpentes. Usar uma serpente em volta da cintura e do pescoço simboliza que Shiva dominou a morte e tornou-se imortal. Na tradição do Yoga, ela também representa kundalini, a energia de fogo que reside adormecida na base da coluna. Quando despertamos essa energia, ela sobe pela coluna, ativando os centros de energia (chakras) e produzindo um estado de hiperconsciência (samádhi), um estado de consciência expandida


ANGITIA (mitologia Romana)
  • Na mitologia romana Angitia era uma deusa serpente. As serpentes eram associadas às artes curativas na antiga mitologia romana e Angita é associada principalmente à uma deusa da cura. Ela era particularmente venerada pelos Marsi, um povo da Itália. Ela tinha poderes de bruxaria e fazia milagres e curas com ervas, especialmente no que se referia a mordidas de serpentes. A ela atribui-se também uma variedade de poderes sobre serpentes, incluindo poderes para matar uma serpente com apenas um toque. Alguns romanos igualam-na a Bona Dea.

DRAGÃO DA CÓLQUIDA (mitologia grega)
  • Era um dragão com um corpo de serpente onde tinha cem cabeças que falavam línguas diferentes, foi um dragão a quem Hera, mulher de Zeus, deu a tarefa de proteger a macieira de frutos de ouro. Esta era um árvore que Gaia lhe tinha dado no dia de casamento com Zeus. Hera plantou essa árvore nos confins ocidentais do Mundo e deu às ninfas do entardecer, filhas de Atlas, a função de a proteger. Estas, por sua vez, aproveitaram-se dos frutos de ouro para seu próprio benefício e a rainha dos deuses teve de procurar um guardião mais confiável, poderoso, e inteligente – Ladão.

EQUIDNA (mitologia grega)

  • Equidna (do grego Ἔχιδνα, a víbora), era uma criatura monstruosa da mitologia grega, com tronco de uma bela mulher (ou ninfa) e cauda de serpente em lugar dos membros. Era gigante, como um titã. Por isso era a única capaz de se unir com o horrendo Tifão. Vivia numa caverna no Peloponeso ou na Síria. As tradições divergem bastante quanto à sua origem. Segundo Hesíodo era filha de Fórcis e Ceto, e portanto neta de Ponto e Gaia. Em outras versões seria descendente de Tártaro e Gaia ou ainda de Crisaor e Calírroe.

HIDRA DE LERNA (mitologia grega)
  • A Hidra de Lerna era um animal fantástico da mitologia grega, filho dos monstros Tifão e Equidna, que habitava um pântano junto ao lago de Lerna, na Argólida, costa leste do Peloponeso. A Hidra tinha corpo de dragão e nove cabeças de serpente (algumas versões falam em sete cabeças e outras em números muito maiores) cujo hálito era venenoso e que podiam se regenerar. A Hidra era tão venenosa que matava os homens apenas com o seu hálito; se alguém chegasse perto dela enquanto ela estava dormindo, apenas de cheirar o seu rastro a pessoa já morria em terrível tormento.

JORMUNGAND (mitologia nórdica)
  • Na mitologia nórdica, Jörmundgander ou Jormungand é o segundo filho de Loki com a gigante Angrboda. Tem como irmãos o lobo Fenris e Hel. Jormungand tem o aspecto de uma gigantesca serpente. De acordo com a Edda em Prosa, Odin raptou os três filhos de Loki, sendo Jormungand jogado no grande oceano que circula Midgard, aonde viveu desde então. A serpente cresceu tanto que seria capaz de cobrir a Terra e morder sua própria cauda. Como resultado disso, ganhou o nome alternativo de Serpente de Midgard ou Serpente do Mundo. O arqui-inimigo de Jormungand é o deus Thor. Durante o Ragnarök, ela se libertará e cobrirá a terra e os céus com seu veneno.

KA-EN-ANKH NERERU (mitologia egípcia)
  • Ka-en-Ankh Nereru é, na mitologia egípcia, a serpente cósmica que cobria o firmamento enquanto Rá cruzava o submundo na sua barca solar. Deveria ser imenso, pois seu corpo estendia-se por todo o céu da noite. Ao contrário de Apep, a serpente demoníaca que atacava a barca solar todas as noites, Ka-en-Ankh Nereru não lutava com Rá, mas o deixava rejuvenescer antes do nascer do sol. Simboliza as energias revigorantes.

LÂMIA (mitologia grega)
  • Na mitologia grega, Lâmia (em grego, Λάμια) era uma rainha da Líbia que tornou-se um demônio devorador de crianças. Chamavam-se também de Lâmias um tipo de monstros, bruxas ou espíritos femininos, que atacavam jovens ou viajantes e lhes sugavam o sangue. Diversas histórias são contadas a respeito de Lâmia. Sua aparência também varia de lenda para lenda. Na maior parte das versões, contudo, seu corpo, abaixo da cintura, tem a forma de uma cauda de serpente. Esta versão popularizou-se especialmente a partir do poema Lamia, publicado pelo inglês John Keats em 1819. Diodoro Sículo, por sua vez, a descreve como uma mulher de rosto distorcido.

Nāga (mitologia hindu)
  • Naga (do sânscrito: नाग, nāga) é uma palavra em sânscrito e páli que designa um grupo de divindades da mitologia hindu e budista. Normalmente têm a forma de uma enorme cobra-real, com uma ou várias cabeças. No grande épico Hindu Mahabharata, os Nagas tendem a ser apresentados como seres negativos, perseguidos por Garuda, o homem-pássaro, ou vítimas merecedoras de sacrifícios a deuses-serpente. O termo Naga é muitas vezes ambíguo, pois pode também se referir, em determinados contextos, a uma das várias tribos ou etniashumanas conhecidas como nāga e a certos a tipos de elefante e de cobra. Um Naga feminino é um nagi ou nagini.

OUROBOROS (mitologia grega)
  • Ouroboros (ou oroboro ou ainda uróboro) é um símbolo representado por uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda. O nome vem do grego antigo: οὐρά (oura) significa "cauda" e βόρος (boros), que significa "devora ". Assim, a palavra designa "aquele que devora a própria cauda". Sua representação simboliza a eternidade. Está relacionado com a alquimia, que é por vezes representado como dois animais míticos, mordendo o rabo um do outro. É possível que o símbolo matemático de infinito () tenha tido sua origem a partir da imagem de dois ouroboros, lado a lado. Segundo o Dictionnaire des symboles o ouroboros simboliza o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo. O símbolo contém as idéias de movimento, continuidade, auto fecundação e, em consequência, eterno retorno

PÍTON (mitologia grega)
  • Píton, na mitologia grega, é uma serpente gigantesca, que nasceu do lodo na Terra após o grande dilúvio. Foi mandada por Hera para perseguir Leto. A serpente foi morta a flechadas por Apolo e seu corpo foi dividido. O nome Pythia deriva de Pytho, o qual na mitologia foi o nome original de Delfos. O nome foi derivado do verbo pythein (πύθειν), originário da decomposição do corpo da serpente monstro Píton depois que ela foi morta por Apolo e teve seu corpo dividido.

QUETZALCÓATL (mitologia asteca)
  • Quetzalcóatl (náuatle clássico: [náuatle clássico: [ketsaɬˈko.aːtɬ]) é uma divindade das culturas mesoamericanas, cultuado especialmente pelos astecas e pelos toltecas, e identificado por alguns pesquisadores como a principal deidade do panteão centro-mexicano pré-colombiano. Seu nome significa "serpente emplumada" (de quetzal, nome comum do Pharomachrus mocinno, e cóatl, serpente).

RATU-MAI-MBULA (mitologia do Fiji)
  • Na mitologia das ilhas Fiji, Ratumaibula é um deus de grande importância, que preside a agricultura. No mês chamado Vula-i-Ratumaibulu, ele vem de Bula, o mundo dos espíritos, para trazer o pão, fruto, outras árvores frutíferas, flor e o rendimento dos frutos. Dele diz-se ser um deus serpente.

SERPENTE EMPLUMADA (mitologia olmeca)
  • Uma serpente emplumada de estilo olmeca, pintada nas paredes de uma das grutas de Juxtlahuaca. A figura mitológica da Serpente Emplumada representada por toda a América do Norte e Mesoamérica remonta provavelmente aos tempos olmecas. Nas tradições posteriores a serpente com plumas de quetzal era conhecida como a inventora dos livros e do calendário, a doadora do milho à humanidade e, às vezes, como símbolo de morte e ressurreição, muitas vezes associada a Vénus. Os maias conheciam-na como Kukulkán e os quichés como Gukumatz. Os toltecas representavam a serpente emplumada como Quetzalcoatl, rival de Tezcatlipoca. A arte e iconografia demonstram claramente a importância da deidade da Serpente Emplumada no período clássico e na arte olmeca.




SERPENTE (Bíblia)
  • Serpente é o termo usado para traduzir uma variedade de palavras na Bíblia Hebraica, a mais comum delas no hebraico: נחש‎, (nahash), uma palavra genérica para serpente.

SERPENTE (Simbologia)
  • Serpente é uma palavra de origem do latim (serpens, serpentis) que é normalmente substituída por "cobra" especificamente no contexto mítico, com a finalidade de distinguir tais criaturas do campo da biologia.


SERPENTE (zodíaco)

  • Nu Kua, deusa-serpente da mitologia chinesa. A Serpente é um dos animais do ciclo de 12 anos que aparece no Zodíaco da Astrologia chinesa e no Calendário chinês.


TIAMAT (mitologia babilônica e antiga suméria)
  • Tiamat é uma deusa das mitologias babilônica e sumérica. Na maioria das vezes, Tiamat é descrita como uma serpente marinha ou um dragão, mas nenhum texto foi encontrado nos quais contenham uma associação clara com essas criaturas. No Enuma Elish, sua descrição física contém, uma cauda (rabo), coxas, órgãos sexuais, abdômen, tórax, pescoço e cabeça, olhos, narinas, boca e lábios. E por dentro coração, artérias e sangue.

UADJIT (mitologia egípcia)
  • Uadjit é na antiga religião egípcia a deusa padroeira do Baixo Egito (o que correspondia à região do Delta do Nilo). O nome significa "A verde" (cor das serpentes) e "A da cor do papiro" (numa alusão à planta do papiro, que teria sido por ela criada e que era a planta heráldica do Baixo Egipto). O nome desta deusa pode também ser escrito como Uto ou Edjo. Uadjit começou por ser uma deusa ligada à vegetação tendo se transformado numa deusa da realeza. Representava o Baixo Egipto sendo frequente surgir com a deusa correspondente do Alto Egipto, Nekhbet. Esta deusa foi integrada na lenda de Osíris, na qual é ela quem toma conta do pequeno Hórus, escondido nos pântanos do Delta, o qual alimentou com o seu leite, enquanto Ísis procurava por Osíris. Era representada como mulher com cabeça de serpente e que tem na cabeça a coroa vermelha do Baixo Egipto (coroa decheret).



Referências e notas:

  1. *Rute Gouvêa Formada em Desenho Industrial (UEMG), Técnica em Design gráfico e em Comunicação visual (CECOTEG), Web Master (UFMG). Especialista em produção gráfica, atua há mais de 15 anos no mercado editorial mineiro e nacional como designer, editora e produtora gráfica. Sócia-diretora e editora na RG Design.
  2. Fontes: Wikipédia. A enciclopédia livre. Verbetes: sexualidade, preconceitos, tabus, história da sexualidade, religiões, mitologias, pecado original.
  3. Fotos: Wikimedia Commons. Internet. Banco de dados fotos Royalty free. 

Bibliografia:

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  3. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade, vol. 1: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. 17ª edição.
  4. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade. vol. 3. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
  5. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Ed. Contexto. 2002.
  6. GARDNER, Philip and ORBORNM Gary. O Graal da Serpente. Ed. Pensamento. 2005
  7. GRIMAL, Pierre. O amor em Roma. Lisboa: Edições 70. 2005.
  8. HALPERIN, D. M.; WINKLER, J. J.; ZEITLIN, F. I. (eds). Before Sexuality: The Construction of Erotic Experience in the Ancient Greek World. Princeton: Princeton University Press, 1990.
  9. RELIGIÃO. Islamismo. Islamic Beliefs about Human Nature. Sobre "Pecado original".
  10. RELIGIÃO. Judaísmo. Judaism's Rejection Of Original Sin. Sobre "Pecado original".
  11. KING, Anthony. Mammals. In JASHEMSKI, W. F; MEYER, F. G. (eds.). The Natural History of Pompeii. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
  12. LE GOFF, Jaques; FRUONG, Nicolas. Uma história do corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
  13. MASON, Robert T. "The Divine serpent in myth and legend," 1999.
  14. OXFORD. Dictionary of the Christian Church. verbete: Original SinOxford University Press, 2005.
  15. SANFELICE, Pérola de Paula. Sexualidade, amor e erotismo na Roma Antiga: As representações de Vênus nas paredes de Pompéia. OPSIS n. 2, 2010.













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